sábado, 20 de agosto de 2016

Doutrina da Revelação (Parte 1)

Doutrina da Revelação (Parte 1)
Por: William Craig
Tradução: Jackson Leal



No último encontro introduzimos o tema da doutrina cristã, a importância da doutrina cristã, e a importância de estudar a apologética cristã. Agora vamos nos mover para a primeira unidade de nosso curso, que é sobre a doutrina da Revelação.

Introdução
A questão da autoridade.
Iremos introduzir este tema levantando a questão da autoridade. O que queremos dizer com “autoridade”? Bem, autoridade é o direito de exigir crença e obediência. A pessoa que tem autoridade tem o direito de exigir crença e obediência. Assim, por exemplo, na estrutura familiar, os pais têm autoridade com relação aos seus filhos, para exigir que os filhos façam certas coisas e obedeçam seus pais. Mas esta é apenas uma autoridade secundária. Obviamente existem autoridades mais altas acima dos pais. Existem autoridades do Estado e do trabalho, e existem autoridades mais altas que estas. Porém, em última instância temos que chegar a corte de apelo final, a mais alta autoridade além da qual não existe autoridade. Este será o próprio Deus. Deus é a suprema autoridade que tem o direito, como autoridade suprema, para exigir de nós crença e obediência incondicional.
A questão prática torna-se, então, como descobrimos o que Deus pensa e a sua vontade? Se Deus é a última autoridade que direciona nossas vidas, domina nossa vida de certo modo, e requer que nós acrediteos em certas coisas, como conhecer a mente e vontade de Deus sobre algum assunto, para seguir sua autoridade? A resposta a esta pergunta é: Revelação. Revelação é a propagação da vontade e pensamento de Deus sobre algo.



Definição de Revelação
O que queremos dizer com a palavra “revelação”? Revelação significa o desvendar de algo escondido, que então pode ser visto e conhecido como é. Revelação é a descoberta de algo, o desvendar de algo. Neste caso, a vontade e o pensamento de Deus sobre algum tema particular. Isto levanta um certo problema de definição, porque se revelação é o desvendar de algo que de outra forma estaria escondido, então isto pareceria implicar que grande parte da Bíblia não é realmente revelação, tecnicamente falando. Isto foi algo que perturbou teólogos no século XVII quando a crítica bíblica começou a surgir. O que eles começaram a descobrir foi o elemento humano nas Escrituras, que um bom negócio nas Escrituras não é um enunciado profético do Senhor, “Assim diz o Senhor”, algum tipo de palavra reveladora vinda através dos profetas. Grande parte das Escrituras são coisas como as cartas de Paulo à Filemon, onde ele está apenas escrevendo como um autor humano comum escreveria, ou o Evangelho de Lucas, onde Lucas fala sobre como ele foi entrevistando testemunhas oculares e ministros do Evangelho sobre o Jesus tradicional, para que ele pudesse anotar. Não era como se Lucas ou Paulo tivesse alguma revelação em suas mentes, descobrindo alguma verdade que de outro modo estariam ocultas. Pelo contrário, os fatos que Lucas descobriu sobre Jesus eram de conhecimento público; eles poderiam ser encontrados por qualquer um quer se dedicasse a fazer uma investigação histórica. Muitas das cartas de Paulo não eram revelação, neste sentido. Elas eram sobre temas comuns da vida da igreja que muitas pessoas poderiam saber. Se pensarmos em revelação em seu sentido estrito, parece que muito das Escrituras Sagradas não é realmente revelação, e mesmo assim normalmente pensamos na Bíblia como sendo a revelação de Deus.
De modo semelhante, não faria sentido falar sobre revelação geral na natureza porque o ponto chave da revelação geral é que ela não está escondida - está aberta, está disponível de modo geral. Então, em vez de negar que a Bíblia é revelação e assim produzir todo tipo de erro de diagnóstico, seria útil distinguirmos entre dois sentidos da palavra “revelação” – o que podemos chamar de revelação em sentido amplo e revelação em sentido mais estrito. Tecnicamente, no sentido restrito de descobrir algo que está escondido, apenas certas partes da Bíblia seriam revelação. Por exemplo, o livro de Apocalipse poderia ser uma revelação em sentido estrito. João tem uma visão de Deus, onde é revelado para ele o que está para acontecer. Ele chama o livro de Apocalipse ou “Revelação” do que está para acontecer. Em 1 Coríntios 12-14 Paulo fala sobre o serviço de adoração cristã onde os profetas falam, e ele diz que a revelação é dada por alguns, e os outros devem estar em silêncio e escutar o que está sendo dito. Esta seria uma revelação em sentido estrito de desvendar algo que está escondido. Entretanto, também utilizamos a palavra “revelação” em um sendo amplo de uma comunicação de Deus. Isto é, naquele sentido em que penso que a Bíblia é a revelação de Deus para nós e que Deus se revela a si mesmo na natureza. É uma comunicação vinda de Deus. Chamamos a Bíblia de “palavra de Deus” porque é uma palavra de Deus para nós. Ela é a comunicação dEle para nós. Não devemos ser enganadas pela confusão destes dois sentidos da “revelação” – ampla e estrita – ou isto nos levaria a algum sério mal entendido.

Discussão
Pergunta: Inaudível.
Resposta: Eu quero resistir a esta ideia. Eu penso que o Espírito santo pode iluminar a Bíblia de um modo especial para nós quando a lemos – a passagem pode tornar-se cheia de significado para nós em certas situações – mas, não quero dizer que a Bíblia torna-se revelação ou pode tornar-se mais reveladora. Penso que, como veremos quando introduzirmos a doutrina da inspiração, que a Bíblia é a Palavra de Deus. Ela é a revelação de Deus no sentido de que ela é uma comunicação de Deus para nós. Ela não se torna revelação, ela é revelação nes amplo sentido de comunicação de Deus.

Pergunta: Inaudível.
Resposta: Ok. Novamente, eu apenas quero resistir ao seu uso da “revelação” aqui para caracterizar este desvendar de passagens iluminadas das Escrituras. Não penso que elas estão no mesmo patamar da revelação de Deus nas sagradas escrituras para nós. Penso que é muito justo dizer que o Espírito Santo aplica a Escritura ao nosso coração, ele a ilumina para nós, mas a ideia de que Deus está nos negócios para dar revelações particulares para as pessoas me deixa muito desconfortável. Acho que existem profetas que podem dar revelações vindas de Deus, mas distinguiria que um tipo de subjetividade, uma sensação interior que muitas pessoas frequentemente tem que “Deus está falando comigo” ou “Deus está dizendo algo para mim”, eu não penso que deveríamos char isto de revelação.
Pergunta: Inaudível.
Resposta: Penso que o que você tem que entender é o pano de fundo disto. Depois olharemos um pouco mais para isto. Muitos destes teólogos ou iluminados tem uma compreensão muito grosseira da inspiração das Escrituras, quase como um ditado. Eles pensam que foi quase como se o ensino da Bíblia tivesse sido ditada por Deus. Isto é o que os Mulçumanos creem sobre o Alcorão. O Alcorão é ditado por Alá para Maomé. Não existe elemento humano nele como um todo. Quando acadêmicos começaram a descobrir o elemento humano nas Escrituras, aqueles documentos refletem a educação e as circunstancias, debilidades e temperamento dos seus autores, muitos dos quais encontraram muita dificuldade para se reconciliar com a ideia de que a Escritura é uma revelação inspirada por Deus. Por isto eu quero distinguir estes dois diferentes sentidos da revelação, porque eu penso que eles estavam certos ao dizer que nem toda a Bíblia é revelação em sentido estrito. Algo é, como o livro de Apocalipse, mas não toda ela. Isto não significa que ela não é revelação em um amplo sentido, que ela não seja a Palavra de Deus para nós no sentido de que ele está se comunicando por meio das Escrituras. Vamos ver como isto funciona quando chegarmos a algumas das teorias da inspiração.

Pergunta: Inaudível.
Resposta: Este é um perigo real, não é mesmo? Alguns dizem “Eu tive uma revelação de um anjo, portanto, eu não necessito das Escrituras; eu não necessito da Bíblia”. Você escutará frequentemente as pessoas dizerem algo como “Deus me revelou que estou cassado com a pessoa errada e que eu realemente deveria estar casado como outra pessoa, portanto, esta é a justificativa que tenho para o divórcio. Deus quer que seu seja feliz e ele revelou isso para mim”. Eu não estou brincando! Este é o modo que alguns cristãos raciocinam, e este é o resultado de não compreender realmente a natureza da revelação.

Pergunta: Inaudível
Resposta: Muito bem! Esta é exatamente a perspectiva de conhecimento intermediário ou inspiração divina que defenderei depois nesta classe. Você já está antecipando-a para mim. Argumentarei que, de fato, podemos acreditar que a Bíblia é a Palavra de Deus para nós verbalmente, plenamente, e o que é chamado de congruência (ela é tanto Palavra de Deus como palavra do homem) e ela é a Palavra de Deus para nós precisamente por causa do conhecimento de Deus, como Paulo escreveria se ele foi em tal e tal circunstancia chamado para escrever uma epístola para a igreja em Roma. Apegue-se nisto que veremos na classe de defensores.

Revelação Geral
Agora, permita-nos falar algo sobre a revelação geral. Exitem dois tipos de revelação que são frequentemente distintos. Aquilo que eu disse acima não descreve dois tipos de revelação; Em vez disso, foram duas definições de revelação – ampla e estrita. Mas existem também dois tios de revelação. Um chamado Revelação Geral, e outro chamado de Revelação Especial. Não confunda estes dois tipos de revelação com as duas definições de revelação ampla e estrita.

Dois sentidos de “Geral”
O que eu quero dizer por revelação geral? Existem dois sentidos pelos quais há uma revelação geral de Deus. Um sentido seria o que está geralmente disponível. Quer dizer, não está restrito a certas pessoas ou certas épocas e lugares na história. Existe uma revelação que está disponível para toda humanidade. Ela é geral em seu escopo. Mas, em segundo lugar, ela é também geral no sentido em que provê apenas informação geral sobre Deus. Sobre a base da revelação geral de Deus na natureza e consciência, as pessoas podem saber que existe um Criador do universo que tem enorme poder, mas eles não saberiam que ele é uma Trindade, e não saberiam que ele tornou-se carne em Jesus Cristo. Assim, a revelação geral fornece apenas informação geral sobre quem Deus é, sem informação específica. Existem dois sentidos de revelação geral: aquilo que está normalmente disponível e a de informação geral.

Tipos de revelação geral
Como Deus se revela geralmente para nós? Nas cartas de Paulo para a igreja de Roma ele fala sobre dois modos pelos quais Deus é geralmente revelado. O primeiro modo é na natureza. Em Romanos 1:18-20 Paulo fala sobre como Deus tem se revelado ara a humanidade através da ordem criada. Ele diz em Romanos 1:18-20.
Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça. Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;
Aqui, Paulo diz que sobre a base da natureza apenas, todas as pessoas em todas as partes, em qualquer tempo na história podem saber que existe um Criador eterno que é um divindade poderosa que fez o mundo. Além disso, em Romanos 2:14-16 Paulo diz que este Criador implantou sua lei moral nos corações de todas as pessoas. Romanos 2:14-16 diz
Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os; No dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho.
Aqui Paulo diz que os requisitos da lei de Deus estão escritos nos corações das pessoas, mesmo os não judeus, que não tem a Lei Mosaica, e portanto, eles fazem pela natureza o que a lei requer. Existe uma espécie de código moral comum que permeia as sociedades do mundo que está enraizado na consciência do homem. Paulo diz que nossa consciência testemunha e fala para nós o que fazer e o que não fazer. Portanto, todas as pessoas em todos os lugares, através da revelação geral de Deus podem saber que existe um eterno e poderoso criador do mundo perante quem somos moralmente responsáveis e, baseado no que Paulo diz em Romanos 1, moralmente culpados e de quem necessitamos perdão. Isto pode ser conhecido por qualquer um, onde quer que seja. Isto é a revelação geral de Deus na natureza e na consciência.
O que faremos no próximo encontro é ver qual a função da revelação geral e então falar um pouco sobre a relação da revelação geral para os argumentos sobre a existência de Deus, antes olhando para a revelação especial.