Doutrina da Revelação
(Parte 1)
Por: William Craig
Tradução: Jackson
Leal
Original disponível em : http://www.reasonablefaith.org/defenders-2-podcast/transcript/s2-1#ixzz4HtFN9jiT
No último encontro introduzimos o tema da doutrina cristã, a
importância da doutrina cristã, e a importância de estudar a apologética
cristã. Agora vamos nos mover para a primeira unidade de nosso curso, que é
sobre a doutrina da Revelação.
Introdução
A questão da
autoridade.
Iremos introduzir este tema levantando a questão da
autoridade. O que queremos dizer com “autoridade”? Bem, autoridade é o direito
de exigir crença e obediência. A pessoa que tem autoridade tem o direito de
exigir crença e obediência. Assim, por exemplo, na estrutura familiar, os pais
têm autoridade com relação aos seus filhos, para exigir que os filhos façam
certas coisas e obedeçam seus pais. Mas esta é apenas uma autoridade secundária. Obviamente existem autoridades mais altas
acima dos pais. Existem autoridades do Estado e do trabalho, e existem
autoridades mais altas que estas. Porém, em última instância temos que chegar a corte de apelo final, a mais alta autoridade
além da qual não existe autoridade. Este será o próprio Deus. Deus é a suprema
autoridade que tem o direito, como autoridade suprema, para exigir de nós crença
e obediência incondicional.
A questão prática torna-se, então, como descobrimos o que Deus pensa e a sua vontade? Se Deus é a última
autoridade que direciona nossas vidas, domina nossa vida de certo modo, e
requer que nós acrediteos em certas coisas, como conhecer a mente e vontade de
Deus sobre algum assunto, para seguir sua autoridade? A resposta a esta
pergunta é: Revelação. Revelação é a propagação da vontade e pensamento de Deus
sobre algo.
Definição de
Revelação
O que queremos dizer com a palavra “revelação”? Revelação
significa o desvendar de algo escondido, que então pode ser visto e conhecido
como é. Revelação é a descoberta de algo, o desvendar de algo. Neste caso, a
vontade e o pensamento de Deus sobre algum tema particular. Isto levanta um
certo problema de definição, porque se revelação é o desvendar de algo que de
outra forma estaria escondido, então isto pareceria implicar que grande parte
da Bíblia não é realmente revelação, tecnicamente falando. Isto foi algo que perturbou
teólogos no século XVII quando a crítica bíblica começou a surgir. O que eles
começaram a descobrir foi o elemento humano nas Escrituras, que um bom negócio
nas Escrituras não é um enunciado profético do Senhor, “Assim diz o Senhor”, algum
tipo de palavra reveladora vinda através dos profetas. Grande parte das
Escrituras são coisas como as cartas de Paulo à Filemon, onde ele está apenas
escrevendo como um autor humano comum escreveria, ou o Evangelho de Lucas, onde
Lucas fala sobre como ele foi entrevistando testemunhas oculares e ministros do
Evangelho sobre o Jesus tradicional, para que ele pudesse anotar. Não era como
se Lucas ou Paulo tivesse alguma revelação em suas mentes, descobrindo alguma verdade que de outro modo estariam ocultas.
Pelo contrário, os fatos que Lucas descobriu sobre Jesus eram de conhecimento público;
eles poderiam ser encontrados por qualquer um quer se dedicasse a fazer uma
investigação histórica. Muitas das cartas de Paulo não eram revelação, neste
sentido. Elas eram sobre temas comuns da vida da igreja que muitas pessoas poderiam
saber. Se pensarmos em revelação em seu sentido estrito, parece que muito das
Escrituras Sagradas não é realmente revelação, e mesmo assim normalmente
pensamos na Bíblia como sendo a revelação de Deus.
De modo semelhante, não faria sentido falar sobre revelação
geral na natureza porque o ponto chave da revelação geral é que ela não está
escondida - está aberta, está disponível de modo geral.
Então, em vez de negar que a Bíblia é revelação e assim produzir todo tipo de
erro de diagnóstico, seria útil distinguirmos entre dois sentidos da palavra “revelação”
– o que podemos chamar de revelação em sentido amplo e revelação em sentido
mais estrito. Tecnicamente, no sentido restrito de descobrir algo que está
escondido, apenas certas partes da Bíblia seriam revelação. Por exemplo, o
livro de Apocalipse poderia ser uma revelação em sentido estrito. João tem uma
visão de Deus, onde é revelado para ele o que está para acontecer. Ele chama o
livro de Apocalipse ou “Revelação” do que está para acontecer. Em 1 Coríntios
12-14 Paulo fala sobre o serviço de adoração cristã onde os profetas falam, e
ele diz que a revelação é dada por alguns, e os outros devem estar em silêncio e
escutar o que está sendo dito. Esta seria uma revelação em sentido estrito de
desvendar algo que está escondido. Entretanto, também utilizamos a palavra “revelação”
em um sendo amplo de uma comunicação de Deus. Isto é, naquele sentido em que
penso que a Bíblia é a revelação de Deus para nós e que Deus se revela a si
mesmo na natureza. É uma comunicação vinda de Deus. Chamamos a Bíblia de “palavra
de Deus” porque é uma palavra de Deus para nós. Ela é a comunicação dEle para
nós. Não devemos ser enganadas pela confusão destes dois sentidos da “revelação”
– ampla e estrita – ou isto nos levaria a algum sério mal entendido.
Discussão
Pergunta: Inaudível.
Resposta: Eu quero resistir a esta ideia. Eu penso que o
Espírito santo pode iluminar a Bíblia de um modo especial para nós quando a
lemos – a passagem pode tornar-se cheia de significado para nós em certas
situações – mas, não quero dizer que a Bíblia torna-se revelação ou pode
tornar-se mais reveladora. Penso que, como veremos quando introduzirmos a
doutrina da inspiração, que a Bíblia é a Palavra de Deus. Ela é a revelação de
Deus no sentido de que ela é uma comunicação de Deus para nós. Ela não se torna
revelação, ela é revelação nes amplo sentido de comunicação de Deus.
Pergunta: Inaudível.
Resposta: Ok. Novamente, eu apenas quero resistir ao seu uso
da “revelação” aqui para caracterizar este desvendar de passagens iluminadas
das Escrituras. Não penso que elas estão no mesmo patamar da revelação de Deus
nas sagradas escrituras para nós. Penso que é muito justo dizer que o Espírito
Santo aplica a Escritura ao nosso coração, ele a ilumina para nós, mas a ideia
de que Deus está nos negócios para dar revelações
particulares para as pessoas me deixa muito desconfortável. Acho que
existem profetas que podem dar revelações vindas de Deus, mas distinguiria que
um tipo de subjetividade, uma sensação interior que muitas pessoas frequentemente
tem que “Deus está falando comigo” ou “Deus está dizendo algo para mim”, eu não
penso que deveríamos char isto de revelação.
Pergunta: Inaudível.
Resposta: Penso que o que você tem que entender é o pano de
fundo disto. Depois olharemos um pouco mais para isto. Muitos destes teólogos
ou iluminados tem uma compreensão muito grosseira da inspiração das Escrituras,
quase como um ditado. Eles pensam que foi quase como se o ensino da Bíblia
tivesse sido ditada por Deus. Isto é o que os Mulçumanos creem sobre o Alcorão.
O Alcorão é ditado por Alá para Maomé. Não existe elemento humano nele como um
todo. Quando acadêmicos começaram a descobrir o elemento humano nas Escrituras,
aqueles documentos refletem a educação e as circunstancias, debilidades e
temperamento dos seus autores, muitos dos quais encontraram muita dificuldade
para se reconciliar com a ideia de que a Escritura é uma revelação inspirada
por Deus. Por isto eu quero distinguir estes dois diferentes sentidos da
revelação, porque eu penso que eles estavam certos ao dizer que nem toda a
Bíblia é revelação em sentido estrito. Algo é, como o livro de Apocalipse, mas
não toda ela. Isto não significa que ela não é revelação em um amplo sentido,
que ela não seja a Palavra de Deus para nós no sentido de que ele está se
comunicando por meio das Escrituras. Vamos ver como isto funciona quando chegarmos
a algumas das teorias da inspiração.
Pergunta: Inaudível.
Resposta: Este é um perigo real, não é mesmo? Alguns dizem “Eu
tive uma revelação de um anjo, portanto, eu não necessito das Escrituras; eu
não necessito da Bíblia”. Você escutará frequentemente as pessoas dizerem algo
como “Deus me revelou que estou cassado com a pessoa errada e que eu realemente
deveria estar casado como outra pessoa, portanto, esta é a justificativa que
tenho para o divórcio. Deus quer que seu seja feliz e ele revelou isso para mim”.
Eu não estou brincando! Este é o modo que alguns cristãos raciocinam, e este é
o resultado de não compreender realmente a natureza da revelação.
Pergunta: Inaudível
Resposta: Muito bem! Esta é exatamente a perspectiva de
conhecimento intermediário ou inspiração divina que defenderei depois nesta
classe. Você já está antecipando-a para mim. Argumentarei que, de fato, podemos
acreditar que a Bíblia é a Palavra de Deus para nós verbalmente, plenamente, e
o que é chamado de congruência (ela é tanto Palavra de Deus como palavra do
homem) e ela é a Palavra de Deus para nós precisamente por causa do
conhecimento de Deus, como Paulo escreveria se ele foi em tal e tal
circunstancia chamado para escrever uma epístola para a igreja em Roma.
Apegue-se nisto que veremos na classe de defensores.
Revelação Geral
Agora, permita-nos falar algo sobre a revelação geral.
Exitem dois tipos de revelação que são frequentemente distintos. Aquilo que eu
disse acima não descreve dois tipos de
revelação; Em vez disso, foram duas definições
de revelação – ampla e estrita. Mas existem também dois tios de revelação.
Um chamado Revelação Geral, e outro
chamado de Revelação Especial. Não confunda
estes dois tipos de revelação com as
duas definições de revelação ampla e
estrita.
Dois sentidos de “Geral”
O que eu quero dizer por revelação geral? Existem dois
sentidos pelos quais há uma revelação geral de Deus. Um sentido seria o que
está geralmente disponível. Quer
dizer, não está restrito a certas pessoas ou certas épocas e lugares na
história. Existe uma revelação que está disponível para toda humanidade. Ela é
geral em seu escopo. Mas, em segundo lugar, ela é também geral no sentido em
que provê apenas informação geral sobre
Deus. Sobre a base da revelação geral de Deus na natureza e consciência, as
pessoas podem saber que existe um Criador do universo que tem enorme poder, mas
eles não saberiam que ele é uma Trindade, e não saberiam que ele tornou-se
carne em Jesus Cristo. Assim, a revelação geral fornece apenas informação geral
sobre quem Deus é, sem informação específica. Existem dois sentidos de
revelação geral: aquilo que está normalmente disponível e a de informação geral.
Tipos de revelação
geral
Como Deus se revela geralmente para nós? Nas cartas de Paulo
para a igreja de Roma ele fala sobre dois modos pelos quais Deus é geralmente
revelado. O primeiro modo é na natureza. Em Romanos 1:18-20 Paulo fala sobre
como Deus tem se revelado ara a humanidade através da ordem criada. Ele diz em
Romanos 1:18-20.
Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e
injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça. Porquanto o que de Deus
se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas
coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a
sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão
criadas, para que eles fiquem inescusáveis;
Aqui, Paulo diz que sobre a base da natureza apenas, todas
as pessoas em todas as partes, em qualquer tempo na história podem saber que
existe um Criador eterno que é um divindade poderosa que fez o mundo. Além
disso, em Romanos 2:14-16 Paulo diz que este Criador implantou sua lei moral
nos corações de todas as pessoas. Romanos 2:14-16 diz
Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as
coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; Os quais
mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua
consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os; No
dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo
o meu evangelho.
Aqui Paulo diz que os requisitos da lei de Deus estão escritos
nos corações das pessoas, mesmo os não judeus, que não tem a Lei Mosaica, e
portanto, eles fazem pela natureza o que a lei requer. Existe uma espécie de código
moral comum que permeia as sociedades do mundo que está enraizado na consciência
do homem. Paulo diz que nossa consciência testemunha e
fala para nós o que fazer e o que não fazer. Portanto, todas as pessoas em
todos os lugares, através da revelação geral de Deus podem saber que existe um
eterno e poderoso criador do mundo perante quem somos moralmente responsáveis
e, baseado no que Paulo diz em Romanos 1, moralmente culpados e de quem
necessitamos perdão. Isto pode ser conhecido por qualquer um, onde quer que
seja. Isto é a revelação geral de Deus na natureza e na consciência.
O que faremos no próximo encontro é ver qual a
função da revelação geral e então falar um pouco sobre a relação da revelação geral
para os argumentos sobre a existência de Deus, antes olhando para a revelação
especial.